Há palcos que são pedaços do mundo ou o mundo em pedaços. E há grupos que, com coragem, os pisam não apenas para representar, mas para transformar dor em voz, pensamento em gesto, silêncio em presença.
Mais um ciclo de apresentações do Grupo de Teatro AbreMundos se encerra, este que levou à cena a peça “Esta guerra não é nossa!”, aos palcos do TPN e dos Recreios, no âmbito da XXIV Mostra de Teatro de Escolas da Amadora, e em duas sessões muito especiais na escola, perante a comunidade educativa, no dia 28 de maio. Foram momentos de grande emoção e partilha, em que os palcos e o auditório se encheram de aplausos e onde se ousou gritar Paz — a prova de que o teatro é lugar de encontro e transformação, deixando muito mais do que uma marca artística. Deixa também uma ferida aberta que é, ao mesmo tempo, semente de reflexão.
Neste espetáculo, não houve cronologia, nem conforto. Houve verdades desconcertantes ditas com a força de quem as vive(u) por dentro: um embate entre Paz e Guerra, entre humanidade e sobrevivência, entre passado e presente, entre poesia e sofrimento. Um texto original, escrito com o sangue latejante e criativo de todo o grupo. Diálogos potentes, entrecortados por silêncios ensurdecedores. Cenas que expuseram com ironia, raiva e ternura a perplexidade de viver num mundo onde tantas guerras – invisíveis ou históricas – se prolongam sem fim.
Na encenação procurámos o cuidado estético e simbólico: cenários compostos por mesas que se transformam em trincheiras, sombras projetadas como fantasmas traumáticos. A música ao vivo, executada com precisão e emoção, ora agitou, ora embalou o espetácul,o entre cenas duras e ternas. As transições fluídas, os figurinos, a luz e o som – tudo conspirou para levar o público a mergulhar numa dramaturgia que é, ao mesmo tempo, paródia e manifesto.
A atuação do grupo valeu-lhes um troféu de participação e palavras calorosas por parte do júri, que reconheceu a originalidade, a força interpretativa e a sensibilidade estética deste projeto teatral. Mas mais do que qualquer troféu, o verdadeiro prémio foi a capacidade de transformar o palco num espelho social ao qual os espetadores não puderam ficar indiferentes.
No encerramento desta temporada, não podemos deixar de prestar uma homenagem sentida aos alunos finalistas que agora encerram o seu ciclo no AbreMundos. Juceila, Mariana, Matilde, Helena, Maura – atrizes de enorme talento e generosidade, que tantas vezes fizeram do palco a sua casa e a projeção da sua humanidade – e Eduardo, Margarida e Miguel, músicos que deram alma e ritmo à nossa voz, levarão para sempre consigo o nosso reconhecimento e admiração. Foram parte essencial da história deste grupo, e farão sempre parte da família AbreMundos. O vosso legado ficará gravado nas nossas memórias – e em cada nova estreia futura, haverá sempre um aplauso que vos pertence.
Reiteramos os nossos agradecimentos à Mostra de Teatro de Escolas da Amadora, ao Teatro Passagem de Nível de Alfornelos, e aos Recreios da Amadora, por darem palco aos nossos alunos. É com estas oportunidades que se forma uma geração crítica, sensível e participativa.
E agradecemos, com especial carinho, ao elenco apaixonado, ao incansável staff de professores (e à Joana pelo apoio na régie), às famílias apoiantes e cúmplices, e à Direção do Agrupamento de Escolas Amadora Oeste, que apoia este projeto com convicção e confiança. Todos provamos que o teatro é arte e resistência - ao esquecimento e à inércia.
E sim, esta guerra não é nossa. Mas aquela paz… pode ser.
Créditos de imagem
Fotografia - Luís Alexandre, "amigo" externo do Grupo AbreMundos
Edição - Mariana Boero, 12º5
TPN, 6 de maio de 2025
Recreios da Amadora, 14 de maio de 2025